segunda-feira, 29 de junho de 2020

O que é uma nuvem de gafanhotos e por que ela se forma?


No começo da semana passada, como se não houvesse com o que se preocupar em 2020, surgiram notícias de que uma nuvem de gafanhotos estava na Argentina e poderia vir para o sul do Brasil. Afinal de contas, o que é este fenômeno e por que ele ocorre?


Os gafanhotos geralmente são animais solitários, mas se tornam gregários sob determinadas circunstâncias, como a falta de alimento ou o aumento de população. Quando isso ocorre, eles formam as chamadas nuvens, grupos que podem chegar a milhões de insetos que se deslocam sem direção ordenada e comem o que encontram pelo caminho.


Estes insetos não transmitem doenças e não atacam animais ou seres humanos. Eles atacam material vegetal para se alimentar, e é aí que mora o perigo: o deslocamento da nuvem pode trazer graves consequências para a agricultura e, indiretamente, para a pecuária, já que pode prejudicar os recursos usados para a criação de animais. Por isso, eles são considerados um risco para a segurança alimentar.


De cerca de 400 espécies de gafanhoto conhecidas, algo em torno de 50 são nômades — isto é, se deslocam quando há um aumento populacional — e apenas pouco mais de dez causam prejuízos à agricultura. A única espécie nômade que vive regularmente no Brasil e causa problemas é a Rhammatocerus schistocercoides, encontrada no Mato Grosso.


A nuvem que está atualmente na Argentina é da espécie Schistocerca cancellata, uma velha conhecida do país vizinho. De acordo com um artigo publicado em 2017 por pesquisadores argentinos e norte-americanos, há registros de S. cancellata nas plantações desde 1538, e a presença do gafanhoto moldou os programas de combate de pragas do país desde o fim do século 19.


O que causa a nuvem de gafanhotos


O problema não é exclusivo da região, aliás. No começo do ano, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) alertou para o crescimento rápido da população de gafanhotos no leste da África e no Oriente Médio, podendo formar nuvens “sem precedentes” e comprometer a segurança alimentar da região. Nos meses seguintes, houve até notícias falsas de que a China colocaria um exército de patos para combater os insetos na fronteira com o Paquistão.


Tanto na África e no Oriente Médio quanto aqui na América do Sul, existe a suspeita de que as mudanças climáticas estejam por trás do crescimento da população de gafanhotos, com o aumento das temperaturas acelerando a reprodução dos insetos.


Nuvens de gafanhotos voam acima das plantações na vila de Katitika, no Quênia, em 24 de janeiro de 2020. Crédito: AP


Na Argentina, os insetos permaneceram controlados por cerca de seis décadas, com presença pequena no noroeste do país, mas, entre 2015 e 2017, três novos surtos ocorreram, chegando a áreas do Paraguai, da Bolívia e do sul do Brasil.


Acredita-se que estes surtos estejam ligados a invernos mais quentes, que adiantaram o ciclo de reprodução dos gafanhotos. Como eles começaram a se reproduzir mais cedo, pode ter havido a chance de três gerações surgirem em vez das duas habituais.


Como se combate a nuvem de gafanhotos


O controle dos gafanhotos geralmente é feito quando eles ainda não formaram a nuvem, como forma de prevenção. Quando estão nesse estágio gregário, a situação fica muito mais difícil, porque, de acordo com o Serviço Nacional de Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa), o grupo só se assenta tarde da noite, quando a visibilidade é muito baixa.


As equipes responsáveis pelo combate aplicam pesticidas para matar os insetos e diminuir a população. Entretanto, é preciso ter cuidado pois, como lembra esta matéria da Super de 2011, há o risco de esses produtos contaminarem o ambiente.


Por enquanto, a nuvem não chegou ao Brasil. Existe a possibilidade de que ela se desfaça com a chuva e a queda nas temperaturas, como diz um especialista ouvido pelo Canal Rural. O Ministério da Agricultura também disse ter tomado medidas para monitoramento da nuvem de gafanhotos:

Do nosso véi

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