segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Não é por força do acaso que o cravo-da-índia seja tão caro

 


O cravo-da-ìndia é um desses casos de amor e ódio: quem gosta, chega a mascá-lo in natura; quem odeia não pode sentir seu cheiro sem sentir náuseas. O condimento é produto da flor seca (girofle) da árvore Syzygium aromaticum, nativa da Indonésia, e foi uma das especiarias da índia -daí o nome- mais valorizadas no mercado do início do século 16 quando um quilo de cravo equivalia a 7 gramas de ouro. Com a grama cotada hoje a 292 reais, um quilo de cravo custava em torno de 2.044 reais. Ainda que seu preço tenha cedido com a passagem dos anos, um quilo hoje equivale em torno de 2,2 gramas de ouro.

Quando exportado hoje, um quilo desses cravos secos custa quase 700 reais e eles são caros por uma variedade de razões. Paras começar a árvore Syzygium aromaticum (relacionada à murta e ao eucalipto) rende apenas de 2 a 3 quilos por ano. Os cravos são sensíveis às condições climáticas e devem ser colhidos à mão quando atingem um comprimento específico.



Os coletores escolhem cuidadosamente os girofles e a necessidade de uma inspeção visual faz com que a colheita do cravo seja trabalhosa e leve muito tempo. Os coletores também devem ter cuidado para não quebrar os botões. Se o fizerem, o valor do cravo cai significativamente porque perde grande quantidade do óleo de eugenol, que proporciona o cheiro e o gosto característico do cravo.



E é aí que começa o risco. Para colher o cravo corretamente, os trabalhadores colocam suas vidas em risco porque devem alcançar as copas das árvores que não são necessariamente pequenas, alcançando até os 15 metros de altura. Em geral são usadas escadas, mas há aqueles experimentados que escalam a árvore até o topo. Em ambos casos o perigo de queda é grande.



O girofle é utilizado como tempero desde a antiguidade. Viajantes arábicos comercializavam cravos na Europa na época do Império Romano. Era uma das especiarias da Índia que motivaram várias viagens de navegadores para o continente asiático, "descobrindo" o Novo Mundo no processo.


Na China, os cravos-da-índia eram também usados como antisséptico bucal. Qualquer um que tivesse uma audiência com o imperador precisava mascar cravos para mitigar o mau hálito. O principal motivo do cravo ser usado em doces era sua ação repelente que impedia a invasão de formigas. Essa prática ainda é comum em certos locais onde, devido à grande quantidade de formigas, colocam cravos nos açucareiros para repelir esses insetos.


Hoje os principais consumidores de cravo são os indonésios, responsáveis pelo consumo de mais de 50% da produção mundial. No entanto, o principal uso do girofle não é na cozinha e sim na confecção de kretek, os cigarros aromatizados com cravo. Os kreteks são tão populares, a ponto de se afirmar que todo o país, em virtude deste hábito, parece estar odorizado com o característico e suave (ou nauseabundo, para quem não gosta) aroma do cravo.


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